Por que Portugal tem mais meias maratonas do que maratonas completas?

Você já parou para pensar por que Portugal é conhecido por suas meias maratonas? Neste artigo, vamos explorar essa curiosidade e entender como a história de Rosa Mota influenciou essa tradição.
A Tradição das Meias Maratonas em Portugal: Uma História Curiosa
E aí, corredores! Já se perguntaram por que Portugal parece ter uma paixão especial pelas meias maratonas? Essa é uma daquelas curiosidades que a gente só descobre quando mergulha fundo na cultura da corrida de um lugar. E, acreditem, a história é bem mais divertida e cheia de personalidade do que se imagina, com um toque de humor português que é só deles.
O Início de Uma Conexão: Brasil e Portugal no Asfalto
A relação entre a corrida de rua no Brasil e em Portugal tem raízes profundas. Lá em 1993, quando a revista Contra-Relógio foi lançada aqui, o cenário era bem diferente. Não havia publicações dedicadas aos corredores brasileiros. Mas a Contra-Relógio, com suas críticas construtivas e valorização dos atletas, ajudou a pavimentar o caminho para o que vemos hoje no país.
Nessa jornada, uma parceria importante surgiu com Mario Machado, editor da revista portuguesa Spiridon, que já existia desde 1978. A troca de matérias e experiências entre as duas publicações era constante, e foi natural que o editor da Contra-Relógio, movido pela curiosidade e pela paixão pela corrida, decidisse conhecer a famosa Meia de Lisboa, organizada pelo próprio Machado.
Uma Placa Inusitada na Meia de Lisboa
Foi durante a Meia de Lisboa que uma cena, no mínimo, peculiar chamou a atenção. A prova, que começa do outro lado do rio Tejo, na cabeceira da Ponte 25 de Abril, segue em uma leve descida em direção à capital. Em determinado ponto, os corredores da mini (7 km) se separam dos que seguem para a meia maratona (21 km), rumo à chegada em frente ao Convento dos Jerónimos.
Ao se aproximar de um dos pilares da ponte, uma placa improvisada de papelão, com setas para os dois lados, exibia as “indicações”: “ORGULHO” e “VERGONHA”. Uma mensagem, para dizer o mínimo, confusa e grosseira. Ao questionar Mario Machado sobre o significado daquela brincadeira, ele explicou que era uma manifestação típica do humor português, e que ninguém reclamava.
Rosa Mota: A Lenda que Moldou a Preferência Nacional
A conversa com Machado não parou por aí. A curiosidade sobre a predominância de meias maratonas em Portugal, em contraste com a escassez de maratonas completas, era grande. E a explicação, embora sem dados concretos para comprovar, era fascinante e envolvia uma das maiores atletas portuguesas de todos os tempos: Rosa Mota.
Nos anos 80 e 90, Rosa Mota era um ícone. Suas vitórias eram inúmeras e de grande prestígio. Ela foi hexacampeã da São Silvestre paulistana (entre 1981 e 1986), disputou 21 maratonas entre 1982 e 1992, vencendo 14 delas. Entre seus feitos mais notáveis estão três vitórias na Maratona de Boston, o título mundial em Roma em 1987 e a medalha de ouro olímpica em Seul em 1988. Ela era capaz de terminar uma maratona em menos de 2h30.
O “Mito” e o Humor Português na Corrida
Os feitos de Rosa Mota eram tão grandiosos e conhecidos que, segundo a versão de Mario Machado, acabavam por “desvalorizar” os corredores amadores. Imagine a cena: um maratonista português, orgulhoso de ter completado sua prova em mais de 4 horas, era recebido com um “Completastes uma maratona em mais de 4 horas! Então não és nada, pois a Rosa termina em menos de 2h30!”.
Essa comparação, permeada pelo tal “humor português”, teria levado muitos corredores a preferir as meias maratonas. E, ao falar de suas conquistas, eles omitiam a palavra “meia”, recebendo elogios como: “Conseguistes terminar a maratona em pouco mais de 2 horas; parabéns, estás melhor que a Rosa.”
Hoje, Rosa Mota, aos 67 anos, continua ativa nos bastidores do atletismo e até participa de algumas provas, mantendo-se como uma referência. E, embora a tradição das meias maratonas ainda seja forte, Portugal já conta com algumas maratonas anuais, como as de Lisboa e do Porto, mostrando que o cenário está em constante evolução.
Fonte: Contra Relógio