Como as corridas de rua estão lidando com a gestão de resíduos

Como as corridas de rua estão lidando com a gestão de resíduos
Como as corridas de rua estão lidando com a gestão de resíduos
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Gestão de resíduos é um tema crucial nas corridas de rua. Com o aumento da popularidade desses eventos, a quantidade de resíduos gerados também cresce. Como as organizadoras estão lidando com esse desafio? Vamos explorar as soluções inovadoras que estão sendo implementadas!

Introdução à gestão de resíduos em corridas de rua

As corridas de rua se tornaram um fenômeno global, atraindo milhares de atletas e espectadores. Contudo, essa popularidade traz um desafio significativo: a enorme quantidade de resíduos gerados. A gestão desses materiais é crucial para garantir que o esporte continue a ser uma atividade sustentável e benéfica para o meio ambiente. As empresas organizadoras estão cada vez mais atentas a essa questão, buscando soluções inovadoras para minimizar o impacto ambiental de seus eventos.

Desafio da Ponte: um exemplo de sucesso

No mês passado, o evento Desafio da Ponte, que levou milhares de corredores a cruzar os 13,3 quilômetros da Ponte Rio-Niterói, no Rio de Janeiro, serviu como um grande laboratório para a gestão de resíduos. As organizadoras, Dream Factory e Spiridon (também responsáveis pela Maratona do Rio), enfrentaram a complexa tarefa de hidratar os atletas e, ao mesmo tempo, manter o percurso livre de lixo. A ponte, principal via de acesso entre municípios fluminenses, precisava ser liberada em apenas quatro horas e meia após a largada, e sua localização sobre a Baía de Guanabara adicionava uma camada extra de preocupação ambiental.

A importância da hidratação e resíduos gerados

A hidratação é vital para os corredores, mas os pontos de água são grandes geradores de resíduos. Milhares de copos, sachês e garrafas plásticas, além de embalagens de isotônicos, barrinhas de proteína e géis de carboidratos, são descartados ao longo do percurso. A Musa, uma empresa especializada em gestão de resíduos, estima que, em média, uma corrida gera cerca de 6 toneladas de lixo, podendo chegar a 50 toneladas em eventos maiores. Desse total, impressionantes 90% são materiais recicláveis. Cascas de banana, frequentemente distribuídas após a linha de chegada, são o principal resíduo orgânico.

Soluções inovadoras para a coleta de resíduos

Para o Desafio da Ponte, uma das soluções foi instalar telas de proteção nos pontos de descarte e posicionar barcos na Baía de Guanabara para coletar qualquer material que pudesse cair na água. Mas a grande inovação veio da colaboração dos próprios atletas.

O papel dos atletas na redução de resíduos

Os organizadores do Desafio da Ponte optaram por fornecer água em sachês moles de plástico biodegradável. Os corredores foram incentivados a guardar pelo menos três sachês vazios e entregá-los em pontos de coleta específicos. Em troca, recebiam uma versão em miniatura da medalha oficial da prova. Essa iniciativa teve uma adesão notável: 90% dos participantes colaboraram, resultando na devolução de mais de 19 mil sachês e na distribuição de 4.083 medalhinhas. Os resíduos coletados, tanto do evento quanto da Baía de Guanabara, foram encaminhados para uma cooperativa de reciclagem através da empresa Boomerang.

Desafios enfrentados pelos organizadores

Pedro Pereira, diretor de produto do Desafio da Ponte e da Maratona do Rio, destacou que, embora eficaz, a logística dos sachês é mais complexa que a dos copos plásticos. “A logística do sachê cheio de água é mais difícil do que a do copo, pois não conseguimos empilhar paletes na mesma altura em ambos os casos, e a nossa logística cresceu em 30%. Precisamos de mais espaço e transporte”, explicou. Apesar disso, o sucesso da conscientização dos atletas foi o ponto chave para o controle da geração de resíduos, mostrando que o engajamento do público é fundamental.

Dados sobre a geração de resíduos em corridas

A popularização das corridas de rua no Brasil intensifica a necessidade de uma gestão de resíduos eficiente. O relatório “Perfil do Atleta Brasileiro” de 2024, da plataforma Ticket Sports, revelou que as inscrições para corridas de rua representaram 87% das 1,8 milhão de vendas de ingressos para eventos esportivos na plataforma. Em 2023, esse número já era de 82,4% de 1,3 milhão de inscrições. Com provas que variam de quase 5 mil a 60 mil participantes (como a Maratona do Rio), o volume de resíduos é um desafio constante.

A logística por trás da gestão de resíduos

A coleta e destinação dos resíduos precisam ser rápidas, especialmente em vias com tempo limitado de interdição. É um trabalho que envolve não só a remoção, mas também a separação e o encaminhamento correto de cada tipo de material. A Musa, com seus 700 clientes, é um exemplo de empresa que gerencia todo o processo, desde a geração até a destinação final, utilizando tecnologia para mapear pontos de descarte e conectar parceiros logísticos.

A colaboração entre organizadores e cooperativas

Martin Junck, CEO da Musa, explica que a empresa orquestra todo o universo do resíduo, conectando organizadores a prestadores de serviços e cooperativas de reciclagem. Essa rede garante que os materiais sejam devidamente processados. A colaboração do público na separação dos resíduos aumenta o potencial de reciclagem e reduz os custos logísticos, pois materiais espalhados perdem valor e características de reciclabilidade.

Relatórios de sustentabilidade em eventos

A Iguana Sports, organizadora da SP City Marathon, que reuniu 24,2 mil pessoas em São Paulo em julho, é um exemplo de empresa que adota relatórios de sustentabilidade. Na prova de 42,2 quilômetros, foram coletadas 8,1 toneladas de resíduos recicláveis. Ao longo de 2024, a Iguana Sports recolheu quase 18 toneladas de resíduos via Musa, com 8,7 toneladas recicladas, 6 toneladas destinadas à geração de energia e 130 quilos para adubo orgânico. Esses relatórios oferecem transparência e permitem a mensuração e compensação do impacto ambiental.

A importância da conscientização dos corredores

A conscientização dos atletas é um fator decisivo para o sucesso da gestão de resíduos. Martin Junck ressalta que, ao mostrar aos participantes que seu engajamento faz a diferença, eles se tornam mais propensos a descartar corretamente. Paulo Carelli, diretor de operações da Iguana Sports, confirma essa visão, mencionando que em sua corrida mais recente, a Run The Bridge, a instalação de oito grandes cestos com placas informativas em cada ponto de hidratação, em um percurso de 30 quilômetros, praticamente “zerou a quantidade de copos no chão”.

Exemplos de grandes organizadoras

Além da Dream Factory e Spiridon, outras grandes organizadoras também estão investindo em sustentabilidade:

  • Iguana Sports: Além da SP City Marathon, a empresa testou com sucesso novos recipientes de coleta na Run The Bridge, em São Paulo, e planeja replicar o formato em todas as suas corridas.
  • Yescom: Organizadora da Maratona Internacional de São Paulo, a Yescom coletou 115 mil copos plásticos em uma única prova. Esses copos foram encaminhados para cooperativas de catadores, beneficiados e transformados em resina reciclada.
  • O2Corre: Responsável por séries como o Circuito das Estações, Girl Power Run, Eco Run e Night Run, a O2Corre informa que em eventos com 7 mil a 14 mil participantes, em média, 610 quilos de recicláveis são enviados para cooperativas e 411 quilos de orgânicos para compostagem. A empresa adota estações de coleta seletiva na arena do evento e parcerias com cooperativas locais.

O futuro das corridas e a sustentabilidade

O futuro das corridas de rua passa, inevitavelmente, pela sustentabilidade. A busca por soluções mais eficientes, a inovação em materiais (como os sachês biodegradáveis) e, principalmente, a educação e o engajamento dos corredores são os pilares para eventos cada vez mais verdes. A experiência do Desafio da Ponte e as iniciativas de grandes organizadoras mostram que é possível conciliar a paixão pela corrida com o respeito ao meio ambiente, transformando cada prova em uma oportunidade de impacto positivo.

Conclusão sobre a gestão de resíduos em corridas

A gestão de resíduos em corridas de rua é um desafio complexo, mas as empresas organizadoras estão demonstrando um compromisso crescente com a sustentabilidade. Através de inovações logísticas, parcerias com cooperativas e, crucialmente, o engajamento dos atletas, é possível transformar a grande quantidade de lixo gerada em oportunidades de reciclagem e conscientização. O sucesso de iniciativas como a troca de sachês por medalhas e a implementação de pontos de coleta eficientes são passos importantes para um futuro onde as corridas de rua sejam sinônimo de performance e responsabilidade ambiental.

Fonte: Estadão

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